
Em um mundo onde a moda dita tendências muitas vezes desconectadas da essência e da identidade dos povos, a moda de terreiro surge como um movimento de resistência, representatividade e orgulho ancestral. Mais do que uma escolha estética, ela é uma manifestação cultural viva, que carrega espiritualidade, história e pertencimento em cada detalhe.
A moda de terreiro nasce das tradições afro-brasileiras, especialmente das religiões de matriz africana como o Candomblé. Com suas saias rodadas, panos da costa, bordados manuais, rendas e turbantes , ela traduz, através do vestir, a força e a beleza das culturas dos povos tradicionais afro diaspóricos que resistem até hoje, ao racismo estrutural.
Mas não se trata apenas de roupa-Asós, estamos falando de uma estética que é também política, que afirma identidades e desafia os padrões eurocêntricos que por tanto tempo dominaram o mercado da moda. Vestir moda de terreiro é carregar no corpo os símbolos dos orixás, os códigos sagrados das cores, os tecidos que remetem à essência ancestral.
Hoje, vemos um crescimento de empreendedoras que, assim como eu, encontraram na moda de terreiro uma forma de gerar renda e impacto social, fortalecendo suas comunidades, transformando vidas através desse saber fazer, ocupando espaços onde antes não éramos bem-vindas. Cada peça criada é um ato de fé, de amor, de cuidado e de celebração da nossa herança cultural. É moda feita com propósito, alma e respeito.
Contudo, ainda enfrentamos desafios. O preconceito religioso e o racismo fazem com que a moda de terreiro seja, muitas vezes, invisibilizada ou estigmatizada. Por isso, é tão importante valorizar e apoiar quem trabalha com essa vertente: consumir de quem respeita a cultura, ouvir quem vive essa realidade e compreender que moda também é ferramenta de transformação social.
A moda de terreiro é para quem quer se vestir com verdade, com raiz, com força. É para quem entende que cada peça é um elo com a ancestralidade e uma bandeira erguida contra o apagamento cultural. Mais do que tendência, ela é território de resistência e afirmação.
Que possamos continuar costurando, bordando e vestindo nossas histórias com respeito, orgulho e fé!
Ngunzos
Axé


