Desde muito cedo, minha bússola sempre foi o humano. Antes mesmo de entrar no mercado de trabalho, lá nos tempos de escola, já sentia que havia algo no jeito como o mundo funcionava que me incomodava profundamente. Sendo uma mulher preta, sempre foi um desafio entender e me encaixar nos códigos e condutas que regem o universo corporativo. Especialmente os que dizem respeito ao chamado “networking“.
Troca de interesses
Essa ideia de troca de interesses, muitas vezes camuflada de parceria, soava, e ainda soa, pesada pra mim. Mesmo hoje, com tantos conceitos novos e belas palavras que tentam suavizar essa prática, a verdade é que, na prática, nem sempre é assim. Na vida real, o que se vê são relações construídas não em bases sólidas, mas em estratégias oportunistas.
Olho para trás e vejo que tudo o que construí — e que permanece firme — não nasceu de pitch, nem de pitch deck. Nasceu de afeto. De respeito mútuo. De presença real. As bases mais sólidas da Pittaco Consultoria, por exemplo, não foram pensadas como negócio: foram cultivadas como relação. Foram pontes, não propostas.
E é por isso que insisto: a palavra ainda vale mais que o papel. Em tempos em que contratos são rasgados com desculpas sofisticadas, sigo acreditando que a dignidade está na fala que se cumpre, no acordo que se honra com o coração, não com cláusulas.
As relações que tentei construir motivada por metas, planos de negócios e projeções financeiras… bem, essas não prosperaram. Não por falta de competência, mas por divergência de valores. Porque, quando você senta à mesa sem saber o que o outro serve, pode sair indigesto. Relações pautadas em expectativa de retorno e não em verdade, cedem com o tempo.
Pare de pensar o negócio como um fim. Pense o negócio como uma consequência. Construa-se primeiro como ser humano. Cultive escuta, afeto, presença. Aja com ética, seja generosa, seja justa. Quando o trabalho for consequência da sua potência, ele não falha.
Cáren Cruz
E seja transparente. Que as relações de trabalho sejam baseadas em interesse, sim — mas que esse interesse seja dito, não disfarçado. Que ninguém precise fazer rodeios com medo de parecer arrogante ou prepotente. Que sejamos francas e leves. O que mata as relações é o não-dito, a dissimulação, a ausência de coragem.
O networking como conhecemos não começou nas redes sociais. Ele é mais antigo que as empresas. É sobre relações humanas, sobre trocas de cuidado, de ajuda mútua, de afeto e aprendizado. É por isso que, hoje, quando falo sobre o futuro da Pittaco, não penso apenas na escala, no lucro, no retorno. Penso em como manter esse alicerce: gente que gosta de gente. Gente que sabe dizer sim com verdade, e não com tranquilidade.
Aprendi com o tempo que nem toda oportunidade é uma oportunidade de verdade. Algumas apenas disfarces, tentações embaladas de conexão. Hoje, consigo olhar para um projeto que não dialoga com nossa essência e dizer: não. E isso é liberdade. É saber o que somos e onde queremos chegar. É saber que a imagem que cultivamos não é só visual, é ética, política, e ancestral.
Na Pittaco, a estética é instrumento. Mas a ética é direção.
Nós nos movimentamos no mundo da imagem, sim, mas não nos confundam com aparência. Nosso trabalho é sobre verdade, sobre coerência entre o que se vê e o que se é. Nosso foco não está em vestir tendências, mas em vestir intenções. Porque o vestir, para nós, é linguagem. E o corpo é território.
E nesse território, só faz sentido se for real. Só permanece se for honesto. Só permanece se tiver alma.
Acreditamos em imagem com propósito, em coloração com identidade, em presença com impacto. A análise de coloração que oferecemos não é só sobre saber se você combina com o tom quente ou frio, mas sobre compreender que existe beleza na sua singularidade. É um reencontro com a própria história, com as memórias que sua pele carrega, com os tons que a ancestralidade lhe deu.
É por isso que, quando nos procuram para construir marcas pessoais ou imagens corporativas, perguntamos antes: quem é você? O que você quer comunicar para o mundo? Porque antes de falar de look, a gente fala de legado.
Tudo isso só é possível por causa das relações que escolhemos cultivar. Relações que não começaram em eventos de networking, mas em cafés longos, em trocas sinceras, em ligações fora do horário comercial. Relações que viraram parcerias, e não parcerias que fingiram ser relações.
A Pittaco é fruto disso. É empresa, sim — mas nasceu da amizade, da escuta e do respeito. E é essa base que faz com que ela seja, hoje, o que é: um lugar de transformação, de expressão e de liberdade para pessoas e negócios que entendem que imagem não é embalagem, é essência.
O futuro

O futuro que sonhamos para a Pittaco — e para o mundo — é um futuro em que ser profissional não signifique deixar de ser humano. Onde fazer dinheiro não precise custar os nossos valores. Onde networking seja, de fato, rede. E onde a estética continue sendo estratégia, mas nunca mais disfarce.
Porque no fim das contas, a gente não quer só vender consultoria. A gente quer construir presença. Cultivar identidade. Ser ponte, nunca parede.
E, acima de tudo, a gente quer que você se olhe no espelho e se reconheça. Com todas as suas cores, suas camadas e suas contradições. Porque quando a imagem que mostramos ao mundo é fiel àquilo que sentimos por dentro, não há mais nada a esconder. Só a viver.